28/11/06

Olá

Finalmente, o blog contribui com algo de positivo para este nosso trabalho.
Aqui vai a versão revista e autorizada do nosso Hamlet.
Diz a nossa catarina que ainda não tem as narrações, mas isto com calma é que vamos.
e por isso divirtam-se com vinte e duas páginas do mais autêntico shakespearianismo (inventei esta mesmo agora)


A Tragédia de Hamlet Príncipe da Dinamarca

de William Shakespeare
tradução de André Gago


“Há algo de podre no Reino da Dinamarca”


1 (5.2)

Quadro fixo – todos mortos, Horácio sentado junto do corpo de Hamlet e Fortimbrás passeia pelo palco, observando a cena. Quando Fortimbrás fala, Horácio fixa-o com o olhar.

FORTIMBRÁS
Eu sou Fortimbrás, Inspector Fortimbrás.
Numa visão como esta
Se torna o campo de batalha, mas aqui parece bem mais funesta.

HORÁCIO
Vós que aqui tendes chegado, dai ordem que estes corpos
Altos num estrado sejam postos à vista.
E deixai-me dizer ao mundo que o desconhece
Como estas coisas tiveram lugar. Ireis assim ouvir
De carnais, sangrentos, e desnaturados actos,
De acidentais julgamentos, casuais assassínios,
De mortes dadas por astuciosas e forçadas causas,
E, como corolário, de propósitos que por engano
Caíram sobre a cabeça de quem os inventou.

FORTIMBRÁS
Tal chacina seguiu um grito de impiedade. Ó Morte orgulhosa,
Que festim se prepara na tua cela eterna
Para que tu tantos príncipes de um só golpe
Tão sangrentamente tenhas atingido?

HORÁCIO
Tudo posso eu com verdade dizer.
Mas deixai que isso seja instantemente feito,
Enquanto os espíritos andam inquietos, para que maiores infortúnios
Às intrigas e erros não sucedam.

FORTIMBRÁS
Apressemo-nos a ouvi-lo.

Fortimbrás vai pra o seu lugar de investigador/observador
Horácio levanta-se e começa a apresentar o “espectáculo”

HORÁCIO
Boa noite, Senhoras e Senhores!
O Rei Cláudio, apostou, que numa dúzia de passes entre Hamlet e Laertes, este último não lhe excederia em três toques. Ele apostou doze contra nove. E isto seria posto à prova de imediato, se Hamlet quisesse validar a resposta.
A Rainha Gertrudes desejava que Hamlet usasse de alguma gentileza na sua atitude para com Laertes antes de começar o duelo.

Começa então a cena
Estão todos em posição inicial

HAMLET
Dai-me o vosso perdão, senhor. Eu fiz-vos mal.

LAERTES
A minha natureza,
Cujo motivo nesta causa devia incitar-me mais
À vingança, está satisfeita, mas em termos de honra
Fico indiferente, e não desejo reconciliação,
Recebo a oferta do vosso amor como amor,
E não hei de ofendê-lo.

HAMLET
Eu aceito-o sem reserva,
E neste duelo de irmãos fraternamente lutarei.
Dai-nos os floretes, vamos.

LAERTES
Vamos, um para mim.

O Rei dá o florete a Laertes e Horácio dá o outro a Hamlet.
Eles preparam-se para o duelo

REI
Se Hamlet der o primeiro ou segundo golpe,
Ou ficar quite na resposta ao terceiro assalto,
Que em toda a muralha a artilharia abra fogo.
O Rei irá beber pelo melhor fôlego de Hamlet,
E na taça uma pérola única irá ser deitada
Mais rica que aquela que quatro reis sucessivos
Na coroa da Dinamarca usaram. Dai-me a taça,
(Fortimbrás é quem dá a taça ao rei)
E deixai que os tímbales à trombeta digam,
E a trombeta ao artilheiro lá fora,
Os canhões aos céus, o céu à terra,
'Agora o Rei brinda a Hamlet.'
E vós, os juízes, abri bem os olhos.

HAMLET
Uma!

LAERTES
Não.

HAMLET
Juízes?

HORÁCIO (COMO NARRADOR)
Um toque, um toque muito palpável.

LAERTES
Outra vez.

REI
Esperai. Hamlet, esta pérola é tua.
Aqui vai à tua saúde.

Hamlet e Laertes continuam a jogar

HAMLET
Outra estocada! Que dizeis vós?

LAERTES
Um toque, um toque, confesso.

REI
Dai-lhe a taça.

RAINHA
A Rainha brinda à tua fortuna, Hamlet.

A Rainha pega na taça e levanta-a em direcção a Hamlet, que olha para ela e sorri, virando-se de costas para Laertes

REI
Gertrudes, não bebas.

RAINHA
Beberei, meu senhor. Peço-vos, perdoai-me.

A Rainha Bebe

REI
(àparte) É a taça envenenada. Demasiado tarde.

LAERTES
(àparte) Vou atingi-lo agora.
E no entanto é quase contra a minha consciência.

Jogam
No embate trocam de rapier, e ambos são feridos com a arma envenenada

HORÁCIO (COMO NARRADOR)
Estão a sangrar ambos. Como estais, meu senhor?

HAMLET
Como estais, Laertes?

LAERTES
Ora, como uma galinhola no meu próprio laço!
Sou morto justamente com a minha própria traição.

Hamlet vê a Rainha e corre para junto dela

HAMLET
O que tem a Rainha?

REI
Ela desfaleceu ao vê-los sangrar.

RAINHA
Não, não, a bebida! Ó meu querido Hamlet!
A bebida, a bebida! Fui envenenada.

Morre

HAMLET
Ó, vilania! Oh! Que a porta se feche.
Traição! Procurai.

LAERTES
Hamlet, tu estás morto,
O instrumento da traição está na tua mão,
Desembolado e envenenado - o rei.

Morre

HAMLET
A espada envenenada também?

[atinge o Rei

REI
Ó, defendei-me ainda, amigos. Fui apenas ferido.

O Rei tenta fugir

HAMLET
Aqui tens, incestuoso, assassino, maldito Danês.
Acaba de beber este veneno.
[força-o a beber

A vossa união está aqui?
Segue a minha mãe.
[o Rei morre

Hamlet observa o panorama à sua volta

HAMLET
Horácio, estou morto,
Tu vives, dá fiel relato de mim e da minha causa
Aos que de mim suspeitam.

HORÁCIO
Nunca!

Horácio pega na taça e quase que bebe dela. Caminha em direcção a Hamlet para voltar à sua posição inicial.

HAMLET
Se és um homem,
Dá-me a taça. Larga-a. Pelos céus, é minha!
Ó Deus, Horácio, que manchado nome,
As coisas ficando assim desconhecidas, eu iria deixar para trás!
Se alguma vez me tiveste no teu coração,
Abstrai-te de tal felicidade um pouco mais,
E neste áspero mundo dá à tua dor alento,
Para contar a minha história.

Morre

HORÁCIO
Quebrou-se agora um nobre coração. Boa noite, doce Princípe,
E revoadas de anjos te levem cantando para o teu repouso!

Voltaram todos às mesma posições em que estavam no início de cena
Fortimbrás volta a percorrer a cena e reclhe provas.
Laertes levanta-se.

LAERTES
Irei ungir a minha espada.
Comprei um unguento a um saltimbanco,
Tão mortal, que só de mergulhar nele uma faca,
Onde ela fizer sangue, nem o cataplasma mais raro,
Colação de todos os simples que possuem virtudes
Sob a Lua, pode salvar coisa alguma da morte
Mesmo que apenas arranhada por ela. Tocarei com a ponta
Nesse veneno, de forma a que, se o golpear ao de leve,
Isso o possa matar.


2 e 3 (4.5; 4.6; 4.7)

Entram o Rei e Laertes

REI
Agora deverás ter-me no teu coração por amigo, já que ouviste
Que aquele que ao teu nobre pai assassinou
Perseguia a minha vida.

LAERTES
Mas diz-me
Porque não procedeste contra esses feitos
Se por tua segurança, grandeza, saber, e tudo o mais,
Estavas manifestamente agitado.

REI
Por duas razões: a Rainha sua mãe
Vive quase só de o ver. O outro motivo
Pelo qual não posso acertar contas em público
É o grande amor que as gentes em geral lhe têm.

LAERTES
E assim tenho eu um nobre pai perdido,
Uma irmã levada ao termo do desespero.
Mas a minha vingança chegará.

REI
Não percas o sono por isso.
Tenho cartas de Hamlet.
Irás ouvi-las.
(Lê)
Alto e poderoso amanhã irei pedir licença para ver os vossos reais olhos; quando o fizer, darei conta das circunstância do meu súbito e ainda mais estranho regresso.
Hamlet

Que quererá isto dizer?

LAERTES
Estou como vós perdido, meu senhor. (Carta de Horácio da cena 4.6 “Horácio, quando tu acabares de ler isto rompe até mim tão depressa como se voasses da morte… Ainda não estávamos há mais de dois dias no mar quando um pirata muito guerreiramente aparelhado nos deu caça. Vendo nós que éramos demasiado lentos para manobrar, enchemo-nos compelidos de valor, e uma vez arpoados eu abordei-os. No mesmo instante eles livraram-se do nosso navio, e eu sozinho tornei-me seu prisioneiro. Eles lidaram comigo como ladrões misericordiosos, mas sabiam o que faziam. Por isso teria de fazer uma boa acção por eles. Deixa o rei receber as cartas que lhe enviei. Tenho palavras a dizer ao teu ouvido que te irão deixar mudo, embora elas sejam de fraco calibre para o bojo do assunto. Rosencrantz e Guildenstern seguem o seu rumo para Inglaterra e deles tenho também muito a contar-te. Adeus. Aquele que sabes teu, Hamlet.”) Deixai que venha.
Isso aquece a amargura do meu coração.

REI
Se assim fôr, Laertes —
Serás tu guiado por mim?

LAERTES
Sim, meu senhor.

REI
Se ele tiver ora regressado, irei incitá-lo
A uma empresa agora amadurecida no meu engenho,
Na qual ele não pode escolher senão tombar;
E pela sua morte não há-de vento culposo soprar,
Mas mesmo a sua mãe irá desculpar a prática
E chamar-lhe acidente.

LAERTES
Meu senhor, serei por vós guiado;
Tanto mais se fizerdes com que dessa função
Possa ser eu o órgão.

REI
Tem-se falado muito de vós desde que viajaste,
E isso chegou aos ouvidos de Hamlet, por uma qualidade
Em que dizem que sois brilhante:
Na arte de vos defenderdes.
Hamlet regressado irá saber que voltaste para casa.
Iremos arranjar quem vos ponha por fim lado a lado,
E aposte nas vossas cabeças. Ele, sendo muito generoso,
Não irá examinhar as lâminas, e com facilidade,
Ou com um pouco de manha, poderás tu escolher
Uma espada desembolada, e, num passe do combate,
Dares-lhe retribuição pelo teu pai.

LAERTES
Se isso falhar?...

REI
Quando nos vossos movimentos estiverem quentes e com sede
E ele pedir para beber, ter-lhe-hei oferecido
Um cálice para a ocasião, no qual apenas molhando os lábios,
Se ele por sorte escapar á tua venenosa estocada,
O nosso propósito possa cumprir-se.

Entra a Ofélia com flores

VOZES
(dentro) Deixem-na entrar.

LAERTES
O que há? Que barulho é este?

OFÉLIA
Toma rosmaninho, para a lembrança. Peço-te, amor, lembra-te. E toma amores-perfeitos, para os pensamentos.
Toma funcho para ti, e columbinas. Toma arruda para ti, e eis alguma para mim. Aos Domingos podemos chamar-lhe erva-da-graça. Oh, tens de usar a tua arruda de modo distinto. Toma uma margarida. Eu dava-te algumas violetas, mas murcharam todas quando o meu pai morreu. Dizem que teve um bom fim.
(canta)
Pois a minha alegria é o bravo e bom Robim.

Sai
LAERTES
Pelos céus, a tua loucura terá pesada paga.
Oh rosa de Maio,
Terna donzela, boa irmã, doce Ofélia!
Oh céus, será possível eu o tino de uma donzela jovem
Possa ser tão mortal como a vida de um homem velho?

Entra a Rainha

RAINHA
Uma dor tropeça nos calcanhares de outra,
Tão de perto se seguem.Vossa irmã afogou-se, Laertes.

LAERTES
Afogou-se! Oh, onde?

RAINHA
Há um salgueiro que cresce debruçado no riacho,
E mostra as suas folhas alvas ao espelho da corrente.
Com ele fantásticas grinaldas ela fez
De rainúnculos, urtigas, margaridas, e longas orquídeas,
A que pastores de fala livre dão nome grosseiro,
Mas que as nossas donzelas castas chamam dedos-de-morto.
Ali aos ramos pendentes com a coroa de ervas
Trepando para pendurá-la, um invejoso galho quebrou-se,
E então a grinalda de ervas e ela mesma
Caíram no lacrimoso riacho. As suas vestes abriram-se,
E qual sereia algum tempo à tona a mantiveram,
Enquanto ela cantava excertos de velhas laudas,
Como alguém ignorante da sua desgraça,
Ou como uma criatura nascida e votada
Àquele elemento. Mas muito não demoraria
Até que os seus vestidos, pesados do que bebiam,
Puxassem a pobre infeliz do seu melodioso cantar
Para a morte lodosa.

Sai.

REI
Sigamo-lo, Gertrudes.
O que tive eu de fazer para acalmar a sua raiva!
Agora receio que isto a faça começar de novo.

Saem


4 (1.3)

Entram Laertes e Ofélia

LAERTES
Adeus irmã. Com o benefício dos ventos
E havendo meios disponíveis, não haveis de dormir
Sem eu ter notícias vossas.

OFÉLIA
Duvidais disso?

LAERTES
Quanto a Hamlet, e à frivolidade de seus favores,
Olhai-os como uma moda e um capricho do sangue,
Uma violeta na juventude da sua prima natura, /primavera
Temporã, não permanente, doce, não duradoira, / Efémera/Prematura
O perfume e passatempo de um minuto,
Não mais.

OFÉLIA
Não mais que isso?

LAERTES
Não penseis em mais.
Pois a natureza em crescendo não cresce apenas
Em músculos e volume, mas quando este templo alarga
As íntimas serventias da mente e da alma
Cresce imenso com elas. Talvez ele vos ame agora,
E agora não há desonra nem astúcia que manchem
A virtude do seu desejo. Mas deveis recear,
Sua grandeza avaliando, que ele não tenha desejo de seu.
Pois ele próprio é súbdito do seu berço.
Ele não pode, como as pessoas que nada valem,
Escolher por si próprio. Pois da sua escolha depende /Optar
A segurança e o bem-estar de todo este reino.
Então, se ele diz que vos ama,
Sereis por ora assisada em acreditá-lo
Até onde ele na sua particular actividade e posição
Possa fazer das palavras actos; que não irão além
Do que a maioritária voz da Dinamarca há-de ir.
Então pesai que perda vossa honra pode sustentar
Se com tão crédulo ouvido escutardes as suas canções,
Ou oferecerdes vosso coração, ou vosso casto tesouro abrirdes
À sua incontrolada importunidade.
Receai-o, Ofélia, receai-o, minha querida irmã.
E mantende-vos na retaguarda da vossa afeição,
A salvo das arremetidas e danos do desejo.
A mais casta donzela é pródiga que baste
Se desvelar a sua beleza perante a lua.
A própria virtude não escapa a caluniosos ataques.
A larva gafa os rebentos da primavera
Tantas vezes antes dos botões desabrocharem;
E no matinal e líquido orvalho da juventude
Contagiosas infecções são as mais iminentes.
Ficai alerta então. A melhor segurança está no receio.
A juventude contra si se rebela, se não tiver outro freio.

OFÉLIA
Eu hei-de o efeito desta boa lição manter
Como guardião do meu coração. Mas, meu bom irmão,
Não queirais, como alguns desgraçados pastores fazem,
Mostrar-me a ìngreme e tormentosa via para os céus
Enquanto quais ufanos e estouvados libertinos
Eles próprios o prazenteiro atalho do folguedo trilham
Sem cuidarem do que pregam.

LAERTES
Oh, não receeis por mim.
Estou a demorar-me.

Entra Polónio.

Mas aí vem o meu pai.
Uma dupla benção é uma dupla graça.
A ocasião sorri a uma segunda despedida.

POLÓNIO
Ainda aqui, Laertes? A bordo, a bordo, haja vergonha!
O vento senta-se ao ombro da tua vela,
E estão à tua espera. Pronto – tens a minha benção.

LAERTES
Muito humildemente vos peço licença, meu senhor.

POLÓNIO
O tempo vos convida. Ide.

LAERTES
Adeus, Ofélia; e recordai bem
Aquilo que vos disse.

OFÉLIA
Está na minha memória fechado.
E vós próprio dela conservareis a chave.

LAERTES
Adeus.

POLÓNIO
O que foi, Ofélia, que ele vos disse?

OFÉLIA
Algo respeitante ao senhor Hamlet.

POLÓNIO
Mãe de Deus, bem pensado.
Eu devo dizer-vos
Que vós não vos compreendeis com a clareza
Que convém à minha filha e à vossa honra.
Que há entre vós? Dai-me a verdade.

OFÉLIA
Ele tem, meu senhor, últimamente dado muitas provas
Da sua afeição por mim.

POLÓNIO
Afeição? Aaah! Vós falais como uma rapariga verde,
Inexperiente em tão perigosa circunstância.
Acreditais vós nas suas provas, como lhes chamais?

OFÉLIA
Eu não sei, meu senhor, o que deva pensar.

POLÓNIO
Por Deus, hei-de ensinar-vos. Pensai em vós como num bebé
Se haveis tomado essas provas por boa moeda.
Dai a vós mesma prova de mais estima,
Ou – para não rebentar os foles da pobre frase,
Alongando-a demais– ireis fazer de mim um tolo.

OFÉLIA
Meu senhor, ele importunou-me com o seu amor
De modo honrado.

POLÓNIO
Pois, 'moda' podíeis chamar-lhe. Vá lá, vá lá

OFÉLIA
E deu continência às suas palavras, meu senhor,
Com quase todos os votos sagrados do céu.

POLÓNIO
Pois, laços para apanhar galinholas. De ora em diante
Sede algo escusa da vossa virginal presença.
Quanto ao Principe Hamlet,
Não acredites nos seus votos.De uma por todas:
Não quero, que de hoje em diante
Dês tão mau uso a qualquer momento de lazer
Que o gastes em palavras ou conversas com o Príncipe Hamlet.
Vinde embora.

OFÉLIA
Obedecerei, meu senhor.

Saem


5 (2.1; 2.2; 3.1)

Escondem-se todos, saindo do palco
Polónio atira Ofélia para o palco
Entra Hamlet

OFÉLIA
Meu bom senhor,
Como tem passado Vossa Alteza estes últimos dias?

HAMLET
Humildemente vos agradecendo, bem, bem, bem.

OFÉLIA
Meu senhor, tenho de vós recordações
Que há muito anseio por devolver-vos.
Peço-vos que as recebais agora.

HAMLET
Não, eu não.
Nunca te dei nada.

OFÉLIA
Meu honrado senhor, sabeis bem que o fizésteis,
E com elas palavras de tão suave alento compostas
Que mais valiosas as tornaram. Perdido o seu perfume,
Tomai isto de volta; pois para mentes nobres
A descortesia de quem ofereceu ricos presentes os torna pobres.
Tomai, meu senhor.

HAMLET
Ah, ah! Sois honesta?

OFÉLIA
Meu senhor?

HAMLET
Sois bela?

OFÉLIA
Que quer dizer Vossa Senhoria?

HAMLET
Que se sois honesta e bela, a vossa honestidade não deveria admitir medir-se com a vossa beleza.

OFÉLIA
Pode a beleza, meu senhor, ter melhor companheira que a honestidade?

HAMLET
Ah, sem dúvida, pois o poder da beleza mais depressa transforma aquilo que a honestidade é numa rameira do que a força da honestidade é capaz de elevar a beleza à sua imagem. Isto em tempos era um paradoxo, mas agora os tempos demonstram-no. Amei-vos um dia.

OFÉLIA
De facto, senhor, assim mo fizésteis crer.

HAMLET
Não deveríeis ter-me acreditado. Não deveríeis ter-me acreditado. Pois a virtude não logra inocular-se na nossa velha linhagem mal lhe tomamos o gosto. Não vos amava.

OFÉLIA
A decepção maior é a minha.

HAMLET
Vai para um convento. Quê, haverias tu de gerar mais pecadores? Eu próprio sou razoavelmente honesto, mas poderia no entanto acusar-me a mim mesmo de tais coisas que melhor seria se a minha mãe não me tivesse dado à luz. Sou tremendamente orgulhoso, vingativo, ambicioso, com mais pecados à minha disposição que pensamentos para os idealizar, imaginação para lhes dar forma, ou tempo para os cometer. Somos todos perfeitos patifes, não acredites num só de nós. Segue o teu caminho para um convento. Onde está o vosso pai?

OFÉLIA
Em casa, senhor.

HAMLET
Que as portas se lhe fechem, para que não faça de parvo a não ser em sua casa. Adeus.

OFÉLIA
Ó bons céus, ajudai-o.

HAMLET
Se tu te casares, dou-te por dote esta praga: sejas tu casta como o gelo, pura como a neve,
à calúnia não escaparás. Vai para um convento, adeus. Ou se tens mesmo de casar, casa com um idiota; pois os homens sensatos sabem bem em que monstros os tornais. Para um convento, vai – e depressa. Adeus.

Sai

OFÉLIA
Ó, que nobre espírito eis aqui derrubado!
E eu das amantes a mais descoroçoada e desditosa,
Tendo bebido o mel dos seus melodiosos votos,
Agora vejo essa nobre e soberana razão
Quais doces sinos distorcidos, fora de tom e estridentes,
Essa ímpar forma e feição de brotante juventude,
Arruinada pela loucura! Ó, ai de mim!
Ver o que vejo, tendo visto o que vi!


6 (3.2)

Entra Hamlet com os Actores Todos
Ficam os três escolhidos e os outros saem

HAMLET
Dizei o texto, peço-vos, tal como eu o pronunciei, sem trapos na língua; se o mastigardes como muitos dos nossos actores fazem, será tão aliciante como deixar que o pregoeiro recite as minhas palavras. Nem serreis o ar com a mão demais, assim, mas fazei tudo com contenção; pois mesmo na torrente, tempestade, e, quase poderia dizer, no remoinho da vossa paixão, tereis de adquirir e cultivar uma temperança que possa dar-lhe subtileza. Oh, ofende-me até à alma ouvir um fulano espalhafatoso de peruca desfazer uma passagem apaixonada em frangalhos, em verdadeiros farrapos, e dar cabo dos ouvidos à plateia, que na maior parte não compreende nada que não sejam pantomimices inexplicáveis e barulho. Eu mandaria chicotear tal fulano por exagerar Termagantes. Herodizar Herodes. Oxalá possais evitá-lo.

‘soam as trombetas, as cortinas abrem-se, descobrindo dentro um palco, e uma Pantomima é então representada.

‘Entram um Rei e uma Rainha, muito afectuosos, a Rainha abraçada a ele e ele a ela, ela ajoelha e dá sinal de protestar diante dele, ele levanta-a e declina a cabeça sobre o pescoço dela, ele deita-se sobre um tufo de flores, e ela vendo-o a dormir deixa-o: logo entra outro homem, tira-lhe a coroa, beija-a, e deita veneno para dentro dos ouvidos adormecidos e deixa-o; a rainha regressa, encontra o rei morto, e reage de modo apaixonado: o envenenador com mais três ou quatro acompanhantes volta a entrar, aparentando condoer-se com ela: o cadáver é levado; o envenenador corteja a rainha com presentes, ela parece um pouco ríspida, mas por fim aceita o seu amor’
[as cortinas fecham-se

REI

Luzes, luzes! Quero mais luzes!

7 (3.3)

REI

Oh, a minha ofensa tresanda. Empesta os céus.
Ela tem sobre si a primordial e antiga maldição,
O assassínio de um irmão. Rezar não posso,
A força da minha culpa quebra o meu forte intento
E como um homem a duplos deveres obrigado
Eu estou hesitante em por qual hei-de começar.
E se esta amaldiçoada mão
Fosse uma luva espessa de sangue de irmão,
Não haverá.chuva suficiente nos suaves céus
Que a lave até ficar branca como neve?
Então olharei o alto.
Minha falta é passado. Mas, oh, que forma de oração
Me pode servir?
Tal não pode ser, já que ainda estou na posse
Dos efeitos para os quais cometi o crime,
A minha coroa, a minha própria ambição, e a minha Rainha.
Pode alguém ser perdoado e conservar a ofensa?
E frequente é ver-se como o próprio prémio do vício
Pode comprar a lei. Mas não é assim nas alturas.
Não há artimanhas.
O quê então? O que nos resta?
Ver o que pode o arrependimento. Que há que não possa?
Mas que há-de poder quando alguém não pode arrepender-se?
Tudo há-de ficar bem.

O Rei ajoelha. Entra Hamlet

HAMLET
Agora posso fazê-lo preste, agora que está em prece.
E agora o farei. E assim vai ele para o céu.
Um vilão mata o meu pai, e por isso
Eu, seu único filho, a esse mesmo vilão mando
Para os céus.
Ora, isto é trato e salário, não vingança.
E como estão as suas contas, quem o sabe salvo no céu?
Irá ser duro com ele. E estarei eu então vingado,
Ao levá-lo enquanto purga a sua alma,
Quando está pronto e sereno para a passagem?
Não.
Quando estiver a dormir de bêbedo, ou em coléra,
Ou no incestuoso prazer da sua cama,
Ou em qualquer acto
Que não tenha nele réstia de salvação —
E que a sua alma possa ser tão amaldiçoada e negra
Como o inferno, para onde vai. Minha mãe espera por mim.

Sai

REI
(Erguendo-se)
Minhas palavram voam alto, meus pensamentos não se erguem.
Palavras sem pensamentos jamais subir aos céus conseguem.

Sai

8 ( 1.5)

Um espaço aberto na base da muralha do castelo

Abre-se uma porta na muralha; o ESPECTRO caminha em frente e HAMLET depois, o punho da sua espada desembainhada à laia de cruz diante de si

HAMLET
Aonde me queres levar? Fala, não irei mais longe.

ESPECTRO
[volta-se]. Ouve-me.

HAMLET
Assim farei.

ESPECTRO
A minha hora é quase chegada,
Em que às sulfurosas e tormentosas flamas
Terei de me render.

HAMLET
Ai de ti, pobre espírito!

ESPECTRO
Não te apiedes de mim, mas presta a mais solene atenção
Àquilo que irei revelar.

HAMLET
Fala, eu estou pronto para ouvir.

ESPECTRO
Assim como para te vingares, quando tiveres ouvido.

HAMLET
Como?

ESPECTRO
Sou o espírito do teu pai,
Condenado por certo tempo a vaguear na noite,
E durante o dia confinado a penar nas chamas,
Até que os infames crimes perpetrados nos meus dias naturais
Se consumam e se purguem.
Escuta, escuta, Oh escuta!
Se tu alguma vez o teu querido pai amaste –

HAMLET
Ó Deus!

ESPECTRO
Vinga o seu cru e mais que desnaturado assassínio.

HAMLET
Assassínio!

ESPECTRO
Assassínio bem cru, como só poderia sê-lo,
Mas este mais cru, estranho e desnatural.
Agora Hamlet ouve,
Foi divulgado que, estando a dormir no meu jardim,
Uma serpente me picou, e assim todo o ouvido da Dinamarca
Foi por um forjado relato da minha morte
Relesmente enganado: mas sabe, tu nobre jovem,
Que a serpente que realmente abocanhou a vida do teu pai
Agora lhe usa a coroa.
Ó Hamlet, que queda fatal foi essa!
Mas calma, parece-me sentir o ar da manhã.
Devo ser breve. Dormindo no meu jardim,
Meu costume sempre da tarde,
Pela minha segura hora o teu tio se esgueirou
Com suco maldito do meimendro num vidro,
E no pórtico dos meus ouvidos verteu
O leproso destilado.
Em instantes me vi de escamas coberto como uma casca,
Como os lazarentos, com vis e asquerosas crostas
Por todo o meu suave corpo.
Ó, horrível! Ó, horrível! Demasiado horrível!
Se tu ouves a natureza em ti, não o suportes.
Não deixes que o real leito da Dinamarca seja
Uma alcova de luxúria e amaldiçoado incesto.
Mas seja como for que realizes este acto,
Não sujes a tua mente, nem deixes a tua alma conspirar
Seja o que for contra a tua mãe. Que sejam os céus
E os espinhos que no seu peito se alojam
A picar e a ferroá-la. Despeço-me de ti agora.
O pirilampo mostra que a manhã se aproxima
E já empalidece o seu ineficaz fogo.
Adeus, adeus, adeus. Lembra-te de mim.

Saem

9 (1.2)

Fanfarra. Entra Cláudio, REI da Dinamarca. Gertrudes a RAINHA, o Conselho, que inclui VOLTEMAND, CORNÉLIO, POLÓNIO e o seu filho LAERTES, HAMLET vestido de preto, com outros.

REI
Ainda que da morte do nosso querido irmão Hamlet
A memória esteja fresca, e ainda que nos seja ajustado
Trazer nossos corações em pesar, e que todo o nosso reino
Se contraia num único esgar de dor,
Já porém tanto a discrição lutou com a natureza
Que nós com sensata contrição pensamos nele
Tanto quanto nos relembramos de nós mesmos.
Por isso a que noutros tempos foi irmã, ora nossa Rainha,
A imperial herdeira deste guerreiro Estado,
Nós, como se com destroçada alegria,
Com um olho auspicioso e outro lacrimoso,
Com alegria no funeral e lamentos no matrimónio,
Em igual escala pesando delícia e dolor,
Tomámos por esposa. Nisto não pusemos barreiras
Aos vossos melhores juízos, que sempre livremente andaram
De par com este assunto. A todos, nosso agradecimento.
E agora, Laertes, que novas nos trazeis?
Falaste-nos de uma certa solicitação: o que é, Laertes?
Não podeis falar e razoar com o rei Danês
E perder a voz. Que haverias tu de rogar, Laertes,
Que não haja de ser oferta minha, não pedido teu?
Não é maior a natureza entre cabeça e coração,
Não é a mão mais instrumental para a boca,
Do que o trono da Dinamarca é para teu pai.
Que hás tu de obter, Laertes?

LAERTES
Meu ilustre senhor,
Vossa licença e favor para retornar a França,
De onde aliás de boa vontade viajei para a Dinamarca
Para mostrar meu dever na vossa coroação.

REI
Tendes vós de vosso pai a licença? Que diz Polónio?

POLÓNIO
Ele, meu senhor, arrancou de mim uma morosa licença
Por laboriosíssima petição, e por fim
Sobre as suas vontades pus o selo do meu árduo consentimento.
É meu desejo que lhe deis licença para ir.

REI
Toma a tua boa hora, Laertes, o tempo é teu,
E tuas boas graças expende à tua vontade.
Mas agora, meu primo Hamlet, e meu filho –

HAMLET
Mais algo do género que algo do mesmo género.

REI
Como é isso de as nuvens ainda pairarem sobre ti?

HAMLET
Não é assim, meu senhor, ando demasiado ao sol.

RAINHA
Bom Hamlet, deixa teus olhos ver o rei da Dinamarca como amigo.
Não fiques para sempre de olhos no chão
A buscar por teu nobre pai no pó.
Tu sabes quão comum é tudo o que vive ter de morrer,
Passando do natural à eternidade.

HAMLET
É, senhora, muito comum.

RAINHA
Se é assim,
Porque aparenta ser tão particular para ti?

HAMLET
Aparenta, senhora? Não, é. Não conheço ‘aparências’.
Não é somente a minha tinta capa, boa mãe,
Nem as costumeiras vestes de solene luto,
Nem os suspiros fundos de forçado alento,
Não, nem o farto ribeiro dos olhos,
Nem o desanimado aspecto do meu viso,
Somados a todas as formas, modos, aspectos da dor,
Que em verdade denoto. Essas são aparências de facto,
Pois são acções que um homem pode fingir;
Mas eu possuo aquilo com que ultrapasso o espectáculo.

REI
É doce e comprovativo da tua natureza, Hamlet,
O prestares esses deveres de luto para com teu pai.
Mas deves saber que teu pai perdeu um pai,
Esse pai perdido, o seu perdeu – e quem sobreviveu soube
Em filial obrigação e até seu termo
Cumprir obsequioso pesar. Mas o perseverar
Numa obstinação condolente é seguir um curso
De ímpia teimosia, é dor emasculada,
Mostra uma vontade bem contrária à dos céus,
Um coração desguarnecido, uma mente impaciente,
Um entendimento simples e desinstruído;
Pois ao que sabemos ter de ser, e é tão comum
Como a mais vulgar das coisas ao nosso senso –
Porque nos haveríamos de perversamente opôr
E tomar a peito? Não, é uma falta diante dos céus,
Uma falta contra os mortos, uma falta contra a natura,
Por demais absurda perante a razão, cujo tema mais comum
É a morte dos pais, e que sempre clamou
Do primeiro corpo até ao de quem tenha morrido hoje,
‘É assim que tem de ser’. Pedimos-te que deites por terra
Essa infrutífera dor, e penses em nós
Como num pai; pois que o mundo tome boa nota
Tu és quem sucede imediatamente ao nosso trono,
E com não menos nobreza de amor
Que aquele que o mais querido pai nutre pelo filho
Assim o comparto no que a ti respeita.

Fanfarra. Saem todos menos Hamlet

HAMLET
Ó, se esta carne tão, tão sólida pudesse solver,
Diluir e volver-se a si mesma em orvalho,
Ou se a Eternidade não houvesse fixado
O seu cânone avesso aos que a si se matam. Ó Deus! Deus!
Quão exauridos, gastos, fracos, e inaproveitáveis
Se me mostram todos os usos deste mundo!
É um jardim solitário
Cujas sementes engordam; quanto há de rasteiro e grosseiro na natureza
Possui-o por inteiro. Que tenha chegado a isto!
Só há dois meses morto – não, nem tanto, nem dois –
Tão excelente rei, tão amante de minha mãe
Que nem aos ventos celestes permitiria
Visitar a face dela com tal rudeza. Céus e terra,
Devo eu recordar? Ora, ela não o largava
Como se em crescente apetite provasse
Do que era farta; e porém daí a um mês –
Não me deixeis pensar nisso – fraqueza, o teu nome é
mulher –
Um simples mês, antes daqueles sapatos gastar
Com que acompanhou de meu pobre pai o corpo,
Toda lágrimas – quê, ela –
Ó Deus, uma besta a que falte o discurso da razão
Haveria de manter o luto – casada com o meu
tio,
Irmão de meu pai – mas não mais igual a meu pai
Que eu a Hércules. Passado um mês,
Antes que o sal das muito injustificadas lágrimas
Lhe houvesse inflamado em chaga os olhos,
Ela casou – Ó mais que ímpia pressa! Precipitar-se
Com tal destreza em incestuosos lençóis!
Não é, nem pode acabar em nada de bom.


10 (0.0)

(Todos)


Ser ou não ser/, eis a questão/ – Ana A./Pedro
Que seja mais nobre em consciência suportar
Os golpes/e as flechas da má fortuna/ – Ângela, Ana F.
Ou tomar armas contra um mar/de problemas/ – Bruno/Ana Isa, Mara, Ana Rita
E a eles nos opondo/dar-lhes um fim. / Morrer – dormir, / – Mafalda/Cláudia/ Nando; Vanessa/Marta; Zé
Nada mais; / e por dormir dizer que damos fim – Catarina
A dores do coração/ e aos milhares de choques/ naturais/ – Sara/
Mafalda/ Pedro; Ana Rita; Ângela
De que a carne é herdeira:/é uma consumação/ – Nando / Catarina
A desejar devotamente. / Morrer, / dormir, / – Mara/ Zé; Bruno/ Ana Isa; Ana F.
Dormir, /porventura sonhar/ – Ah! /Eis o senão:/ – Sara; Cláudia; Marta; Ana A./ Vanessa/ Nando/ Ana A.
Pois os sonhos que nesse sono da morte possam vir/ – Zé
Quando nos libertamos deste mortal/ enredo/ – Mara/ Todos
Devem fazer-nos hesitar – /eis o respeito – Sara
Que faz tão longa vida/ uma calamidade. – Bruno/ Ana Isa; Pedro
Pois quem suportaria/ a vergasta e o desdém/ deste mundo, / – Ana F./ Catarina; Mafalda; Ângela/ Cláudia
Os erros/ do tirano, / as injúrias dos arrogantes, / – Todos/ Marta/ Ana Rita
As angústias do amor depreciado, / a lentidão/ da lei, / – Ana Isa/ Vanessa/ Todos
A insolência dos que têm um posto, /e os coices – Mara
Que o mérito paciente/, leva dos que não têm nenhum, / – Catarina/ Nando
Quando o próprio poderia a quietude alcançar/ – Ângela
Com um mero punhal? / Quem suportaria o fardo, / – Todos/ Pedro
Resmungando/ e suando/ uma vida de /trabalhos, / – Zé/ Vanessa/ Ana Rita/ Ana F; Marta; Ana Rita
Se não fosse o recreio de qualquer coisa depois da morte/ – Cláudia
A terra desconhecida, / de cuja fronteira – Mafalda/ Bruno
Nenhum viajante regressa, / que confunde a razão, / – Ana A./ Bruno
E nos faz suportar antes os males que temos/ – Ana F.
Que voar ao encontro de/ outros que desconhecemos? / - Nando/ Mara; Catarina; Ângela; Marta
Assim a consciência nos torna cobardes/ a todos, / – Vanessa/ Cláudia
E assim a uma feição genuína e resoluta/ – Ana Rita
Se sobrepõe a doentia cor pálida da incerteza, / – Pedro
E empresas de grande alcance/ e importância/ – Mafalda/ Bruno
Com tais considerações do curso se desviam/ – Sara
E perdem o / nome de acções – Ana Isa/ Todos
(Suicidam-se todos) ?

Anexo: as palavras sublinhadas significa que são ditas por mais do que uma pessoa ao mesmo tempo.




FIM


de William Shakespeare

tradução de André Gago

“Há algo de podre no Reino da Dinamarca”


1 (5.2)

Quadro fixo – todos mortos, Horácio sentado junto do corpo de Hamlet e Fortimbrás passeia pelo palco, observando a cena. Quando Fortimbrás fala, Horácio fixa-o com o olhar.

FORTIMBRÁS
Eu sou Fortimbrás, Inspector Fortimbrás.
Numa visão como esta
Se torna o campo de batalha, mas aqui parece bem mais funesta.

HORÁCIO
Vós que aqui tendes chegado, dai ordem que estes corpos
Altos num estrado sejam postos à vista.
E deixai-me dizer ao mundo que o desconhece
Como estas coisas tiveram lugar. Ireis assim ouvir
De carnais, sangrentos, e desnaturados actos,
De acidentais julgamentos, casuais assassínios,
De mortes dadas por astuciosas e forçadas causas,
E, como corolário, de propósitos que por engano
Caíram sobre a cabeça de quem os inventou.

FORTIMBRÁS
Tal chacina seguiu um grito de impiedade. Ó Morte orgulhosa,
Que festim se prepara na tua cela eterna
Para que tu tantos príncipes de um só golpe
Tão sangrentamente tenhas atingido?

HORÁCIO
Tudo posso eu com verdade dizer.
Mas deixai que isso seja instantemente feito,
Enquanto os espíritos andam inquietos, para que maiores infortúnios
Às intrigas e erros não sucedam.

FORTIMBRÁS
Apressemo-nos a ouvi-lo.

Fortimbrás vai pra o seu lugar de investigador/observador
Horácio levanta-se e começa a apresentar o “espectáculo”

HORÁCIO
Boa noite, Senhoras e Senhores!
O Rei Cláudio, apostou, que numa dúzia de passes entre Hamlet e Laertes, este último não lhe excederia em três toques. Ele apostou doze contra nove. E isto seria posto à prova de imediato, se Hamlet quisesse validar a resposta.
A Rainha Gertrudes desejava que Hamlet usasse de alguma gentileza na sua atitude para com Laertes antes de começar o duelo.

Começa então a cena
Estão todos em posição inicial

HAMLET
Dai-me o vosso perdão, senhor. Eu fiz-vos mal.

LAERTES
A minha natureza,
Cujo motivo nesta causa devia incitar-me mais
À vingança, está satisfeita, mas em termos de honra
Fico indiferente, e não desejo reconciliação,
Recebo a oferta do vosso amor como amor,
E não hei de ofendê-lo.

HAMLET
Eu aceito-o sem reserva,
E neste duelo de irmãos fraternamente lutarei.
Dai-nos os floretes, vamos.

LAERTES
Vamos, um para mim.

O Rei dá o florete a Laertes e Horácio dá o outro a Hamlet.
Eles preparam-se para o duelo

REI
Se Hamlet der o primeiro ou segundo golpe,
Ou ficar quite na resposta ao terceiro assalto,
Que em toda a muralha a artilharia abra fogo.
O Rei irá beber pelo melhor fôlego de Hamlet,
E na taça uma pérola única irá ser deitada
Mais rica que aquela que quatro reis sucessivos
Na coroa da Dinamarca usaram. Dai-me a taça,
(Fortimbrás é quem dá a taça ao rei)
E deixai que os tímbales à trombeta digam,
E a trombeta ao artilheiro lá fora,
Os canhões aos céus, o céu à terra,
'Agora o Rei brinda a Hamlet.'
E vós, os juízes, abri bem os olhos.

HAMLET
Uma!

LAERTES
Não.

HAMLET
Juízes?

HORÁCIO (COMO NARRADOR)
Um toque, um toque muito palpável.

LAERTES
Outra vez.

REI
Esperai. Hamlet, esta pérola é tua.
Aqui vai à tua saúde.

Hamlet e Laertes continuam a jogar

HAMLET
Outra estocada! Que dizeis vós?

LAERTES
Um toque, um toque, confesso.

REI
Dai-lhe a taça.

RAINHA
A Rainha brinda à tua fortuna, Hamlet.

A Rainha pega na taça e levanta-a em direcção a Hamlet, que olha para ela e sorri, virando-se de costas para Laertes

REI
Gertrudes, não bebas.

RAINHA
Beberei, meu senhor. Peço-vos, perdoai-me.

A Rainha Bebe

REI
(àparte) É a taça envenenada. Demasiado tarde.

LAERTES
(àparte) Vou atingi-lo agora.
E no entanto é quase contra a minha consciência.

Jogam
No embate trocam de rapier, e ambos são feridos com a arma envenenada

HORÁCIO (COMO NARRADOR)
Estão a sangrar ambos. Como estais, meu senhor?

HAMLET
Como estais, Laertes?

LAERTES
Ora, como uma galinhola no meu próprio laço!
Sou morto justamente com a minha própria traição.

Hamlet vê a Rainha e corre para junto dela

HAMLET
O que tem a Rainha?

REI
Ela desfaleceu ao vê-los sangrar.

RAINHA
Não, não, a bebida! Ó meu querido Hamlet!
A bebida, a bebida! Fui envenenada.

Morre

HAMLET
Ó, vilania! Oh! Que a porta se feche.
Traição! Procurai.

LAERTES
Hamlet, tu estás morto,
O instrumento da traição está na tua mão,
Desembolado e envenenado - o rei.

Morre

HAMLET
A espada envenenada também?

[atinge o Rei

REI
Ó, defendei-me ainda, amigos. Fui apenas ferido.

O Rei tenta fugir

HAMLET
Aqui tens, incestuoso, assassino, maldito Danês.
Acaba de beber este veneno.
[força-o a beber

A vossa união está aqui?
Segue a minha mãe.
[o Rei morre

Hamlet observa o panorama à sua volta

HAMLET
Horácio, estou morto,
Tu vives, dá fiel relato de mim e da minha causa
Aos que de mim suspeitam.

HORÁCIO
Nunca!

Horácio pega na taça e quase que bebe dela. Caminha em direcção a Hamlet para voltar à sua posição inicial.

HAMLET
Se és um homem,
Dá-me a taça. Larga-a. Pelos céus, é minha!
Ó Deus, Horácio, que manchado nome,
As coisas ficando assim desconhecidas, eu iria deixar para trás!
Se alguma vez me tiveste no teu coração,
Abstrai-te de tal felicidade um pouco mais,
E neste áspero mundo dá à tua dor alento,
Para contar a minha história.

Morre

HORÁCIO
Quebrou-se agora um nobre coração. Boa noite, doce Princípe,
E revoadas de anjos te levem cantando para o teu repouso!

Voltaram todos às mesma posições em que estavam no início de cena
Fortimbrás volta a percorrer a cena e reclhe provas.
Laertes levanta-se.

LAERTES
Irei ungir a minha espada.
Comprei um unguento a um saltimbanco,
Tão mortal, que só de mergulhar nele uma faca,
Onde ela fizer sangue, nem o cataplasma mais raro,
Colação de todos os simples que possuem virtudes
Sob a Lua, pode salvar coisa alguma da morte
Mesmo que apenas arranhada por ela. Tocarei com a ponta
Nesse veneno, de forma a que, se o golpear ao de leve,
Isso o possa matar.


2 e 3 (4.5; 4.6; 4.7)

Entram o Rei e Laertes

REI
Agora deverás ter-me no teu coração por amigo, já que ouviste
Que aquele que ao teu nobre pai assassinou
Perseguia a minha vida.

LAERTES
Mas diz-me
Porque não procedeste contra esses feitos
Se por tua segurança, grandeza, saber, e tudo o mais,
Estavas manifestamente agitado.

REI
Por duas razões: a Rainha sua mãe
Vive quase só de o ver. O outro motivo
Pelo qual não posso acertar contas em público
É o grande amor que as gentes em geral lhe têm.

LAERTES
E assim tenho eu um nobre pai perdido,
Uma irmã levada ao termo do desespero.
Mas a minha vingança chegará.

REI
Não percas o sono por isso.
Tenho cartas de Hamlet.
Irás ouvi-las.
(Lê)
Alto e poderoso amanhã irei pedir licença para ver os vossos reais olhos; quando o fizer, darei conta das circunstância do meu súbito e ainda mais estranho regresso.
Hamlet

Que quererá isto dizer?

LAERTES
Estou como vós perdido, meu senhor. (Carta de Horácio da cena 4.6 “Horácio, quando tu acabares de ler isto rompe até mim tão depressa como se voasses da morte… Ainda não estávamos há mais de dois dias no mar quando um pirata muito guerreiramente aparelhado nos deu caça. Vendo nós que éramos demasiado lentos para manobrar, enchemo-nos compelidos de valor, e uma vez arpoados eu abordei-os. No mesmo instante eles livraram-se do nosso navio, e eu sozinho tornei-me seu prisioneiro. Eles lidaram comigo como ladrões misericordiosos, mas sabiam o que faziam. Por isso teria de fazer uma boa acção por eles. Deixa o rei receber as cartas que lhe enviei. Tenho palavras a dizer ao teu ouvido que te irão deixar mudo, embora elas sejam de fraco calibre para o bojo do assunto. Rosencrantz e Guildenstern seguem o seu rumo para Inglaterra e deles tenho também muito a contar-te. Adeus. Aquele que sabes teu, Hamlet.”) Deixai que venha.
Isso aquece a amargura do meu coração.

REI
Se assim fôr, Laertes —
Serás tu guiado por mim?

LAERTES
Sim, meu senhor.

REI
Se ele tiver ora regressado, irei incitá-lo
A uma empresa agora amadurecida no meu engenho,
Na qual ele não pode escolher senão tombar;
E pela sua morte não há-de vento culposo soprar,
Mas mesmo a sua mãe irá desculpar a prática
E chamar-lhe acidente.

LAERTES
Meu senhor, serei por vós guiado;
Tanto mais se fizerdes com que dessa função
Possa ser eu o órgão.

REI
Tem-se falado muito de vós desde que viajaste,
E isso chegou aos ouvidos de Hamlet, por uma qualidade
Em que dizem que sois brilhante:
Na arte de vos defenderdes.
Hamlet regressado irá saber que voltaste para casa.
Iremos arranjar quem vos ponha por fim lado a lado,
E aposte nas vossas cabeças. Ele, sendo muito generoso,
Não irá examinhar as lâminas, e com facilidade,
Ou com um pouco de manha, poderás tu escolher
Uma espada desembolada, e, num passe do combate,
Dares-lhe retribuição pelo teu pai.

LAERTES
Se isso falhar?...

REI
Quando nos vossos movimentos estiverem quentes e com sede
E ele pedir para beber, ter-lhe-hei oferecido
Um cálice para a ocasião, no qual apenas molhando os lábios,
Se ele por sorte escapar á tua venenosa estocada,
O nosso propósito possa cumprir-se.

Entra a Ofélia com flores

VOZES
(dentro) Deixem-na entrar.

LAERTES
O que há? Que barulho é este?

OFÉLIA
Toma rosmaninho, para a lembrança. Peço-te, amor, lembra-te. E toma amores-perfeitos, para os pensamentos.
Toma funcho para ti, e columbinas. Toma arruda para ti, e eis alguma para mim. Aos Domingos podemos chamar-lhe erva-da-graça. Oh, tens de usar a tua arruda de modo distinto. Toma uma margarida. Eu dava-te algumas violetas, mas murcharam todas quando o meu pai morreu. Dizem que teve um bom fim.
(canta)
Pois a minha alegria é o bravo e bom Robim.

Sai
LAERTES
Pelos céus, a tua loucura terá pesada paga.
Oh rosa de Maio,
Terna donzela, boa irmã, doce Ofélia!
Oh céus, será possível eu o tino de uma donzela jovem
Possa ser tão mortal como a vida de um homem velho?

Entra a Rainha

RAINHA
Uma dor tropeça nos calcanhares de outra,
Tão de perto se seguem.Vossa irmã afogou-se, Laertes.

LAERTES
Afogou-se! Oh, onde?

RAINHA
Há um salgueiro que cresce debruçado no riacho,
E mostra as suas folhas alvas ao espelho da corrente.
Com ele fantásticas grinaldas ela fez
De rainúnculos, urtigas, margaridas, e longas orquídeas,
A que pastores de fala livre dão nome grosseiro,
Mas que as nossas donzelas castas chamam dedos-de-morto.
Ali aos ramos pendentes com a coroa de ervas
Trepando para pendurá-la, um invejoso galho quebrou-se,
E então a grinalda de ervas e ela mesma
Caíram no lacrimoso riacho. As suas vestes abriram-se,
E qual sereia algum tempo à tona a mantiveram,
Enquanto ela cantava excertos de velhas laudas,
Como alguém ignorante da sua desgraça,
Ou como uma criatura nascida e votada
Àquele elemento. Mas muito não demoraria
Até que os seus vestidos, pesados do que bebiam,
Puxassem a pobre infeliz do seu melodioso cantar
Para a morte lodosa.

Sai.

REI
Sigamo-lo, Gertrudes.
O que tive eu de fazer para acalmar a sua raiva!
Agora receio que isto a faça começar de novo.

Saem


4 (1.3)

Entram Laertes e Ofélia

LAERTES
Adeus irmã. Com o benefício dos ventos
E havendo meios disponíveis, não haveis de dormir
Sem eu ter notícias vossas.

OFÉLIA
Duvidais disso?

LAERTES
Quanto a Hamlet, e à frivolidade de seus favores,
Olhai-os como uma moda e um capricho do sangue,
Uma violeta na juventude da sua prima natura, /primavera
Temporã, não permanente, doce, não duradoira, / Efémera/Prematura
O perfume e passatempo de um minuto,
Não mais.

OFÉLIA
Não mais que isso?

LAERTES
Não penseis em mais.
Pois a natureza em crescendo não cresce apenas
Em músculos e volume, mas quando este templo alarga
As íntimas serventias da mente e da alma
Cresce imenso com elas. Talvez ele vos ame agora,
E agora não há desonra nem astúcia que manchem
A virtude do seu desejo. Mas deveis recear,
Sua grandeza avaliando, que ele não tenha desejo de seu.
Pois ele próprio é súbdito do seu berço.
Ele não pode, como as pessoas que nada valem,
Escolher por si próprio. Pois da sua escolha depende /Optar
A segurança e o bem-estar de todo este reino.
Então, se ele diz que vos ama,
Sereis por ora assisada em acreditá-lo
Até onde ele na sua particular actividade e posição
Possa fazer das palavras actos; que não irão além
Do que a maioritária voz da Dinamarca há-de ir.
Então pesai que perda vossa honra pode sustentar
Se com tão crédulo ouvido escutardes as suas canções,
Ou oferecerdes vosso coração, ou vosso casto tesouro abrirdes
À sua incontrolada importunidade.
Receai-o, Ofélia, receai-o, minha querida irmã.
E mantende-vos na retaguarda da vossa afeição,
A salvo das arremetidas e danos do desejo.
A mais casta donzela é pródiga que baste
Se desvelar a sua beleza perante a lua.
A própria virtude não escapa a caluniosos ataques.
A larva gafa os rebentos da primavera
Tantas vezes antes dos botões desabrocharem;
E no matinal e líquido orvalho da juventude
Contagiosas infecções são as mais iminentes.
Ficai alerta então. A melhor segurança está no receio.
A juventude contra si se rebela, se não tiver outro freio.

OFÉLIA
Eu hei-de o efeito desta boa lição manter
Como guardião do meu coração. Mas, meu bom irmão,
Não queirais, como alguns desgraçados pastores fazem,
Mostrar-me a ìngreme e tormentosa via para os céus
Enquanto quais ufanos e estouvados libertinos
Eles próprios o prazenteiro atalho do folguedo trilham
Sem cuidarem do que pregam.

LAERTES
Oh, não receeis por mim.
Estou a demorar-me.

Entra Polónio.

Mas aí vem o meu pai.
Uma dupla benção é uma dupla graça.
A ocasião sorri a uma segunda despedida.

POLÓNIO
Ainda aqui, Laertes? A bordo, a bordo, haja vergonha!
O vento senta-se ao ombro da tua vela,
E estão à tua espera. Pronto – tens a minha benção.

LAERTES
Muito humildemente vos peço licença, meu senhor.

POLÓNIO
O tempo vos convida. Ide.

LAERTES
Adeus, Ofélia; e recordai bem
Aquilo que vos disse.

OFÉLIA
Está na minha memória fechado.
E vós próprio dela conservareis a chave.

LAERTES
Adeus.

POLÓNIO
O que foi, Ofélia, que ele vos disse?

OFÉLIA
Algo respeitante ao senhor Hamlet.

POLÓNIO
Mãe de Deus, bem pensado.
Eu devo dizer-vos
Que vós não vos compreendeis com a clareza
Que convém à minha filha e à vossa honra.
Que há entre vós? Dai-me a verdade.

OFÉLIA
Ele tem, meu senhor, últimamente dado muitas provas
Da sua afeição por mim.

POLÓNIO
Afeição? Aaah! Vós falais como uma rapariga verde,
Inexperiente em tão perigosa circunstância.
Acreditais vós nas suas provas, como lhes chamais?

OFÉLIA
Eu não sei, meu senhor, o que deva pensar.

POLÓNIO
Por Deus, hei-de ensinar-vos. Pensai em vós como num bebé
Se haveis tomado essas provas por boa moeda.
Dai a vós mesma prova de mais estima,
Ou – para não rebentar os foles da pobre frase,
Alongando-a demais– ireis fazer de mim um tolo.

OFÉLIA
Meu senhor, ele importunou-me com o seu amor
De modo honrado.

POLÓNIO
Pois, 'moda' podíeis chamar-lhe. Vá lá, vá lá

OFÉLIA
E deu continência às suas palavras, meu senhor,
Com quase todos os votos sagrados do céu.

POLÓNIO
Pois, laços para apanhar galinholas. De ora em diante
Sede algo escusa da vossa virginal presença.
Quanto ao Principe Hamlet,
Não acredites nos seus votos.De uma por todas:
Não quero, que de hoje em diante
Dês tão mau uso a qualquer momento de lazer
Que o gastes em palavras ou conversas com o Príncipe Hamlet.
Vinde embora.

OFÉLIA
Obedecerei, meu senhor.

Saem


5 (2.1; 2.2; 3.1)

Escondem-se todos, saindo do palco
Polónio atira Ofélia para o palco
Entra Hamlet

OFÉLIA
Meu bom senhor,
Como tem passado Vossa Alteza estes últimos dias?

HAMLET
Humildemente vos agradecendo, bem, bem, bem.

OFÉLIA
Meu senhor, tenho de vós recordações
Que há muito anseio por devolver-vos.
Peço-vos que as recebais agora.

HAMLET
Não, eu não.
Nunca te dei nada.

OFÉLIA
Meu honrado senhor, sabeis bem que o fizésteis,
E com elas palavras de tão suave alento compostas
Que mais valiosas as tornaram. Perdido o seu perfume,
Tomai isto de volta; pois para mentes nobres
A descortesia de quem ofereceu ricos presentes os torna pobres.
Tomai, meu senhor.

HAMLET
Ah, ah! Sois honesta?

OFÉLIA
Meu senhor?

HAMLET
Sois bela?

OFÉLIA
Que quer dizer Vossa Senhoria?

HAMLET
Que se sois honesta e bela, a vossa honestidade não deveria admitir medir-se com a vossa beleza.

OFÉLIA
Pode a beleza, meu senhor, ter melhor companheira que a honestidade?

HAMLET
Ah, sem dúvida, pois o poder da beleza mais depressa transforma aquilo que a honestidade é numa rameira do que a força da honestidade é capaz de elevar a beleza à sua imagem. Isto em tempos era um paradoxo, mas agora os tempos demonstram-no. Amei-vos um dia.

OFÉLIA
De facto, senhor, assim mo fizésteis crer.

HAMLET
Não deveríeis ter-me acreditado. Não deveríeis ter-me acreditado. Pois a virtude não logra inocular-se na nossa velha linhagem mal lhe tomamos o gosto. Não vos amava.

OFÉLIA
A decepção maior é a minha.

HAMLET
Vai para um convento. Quê, haverias tu de gerar mais pecadores? Eu próprio sou razoavelmente honesto, mas poderia no entanto acusar-me a mim mesmo de tais coisas que melhor seria se a minha mãe não me tivesse dado à luz. Sou tremendamente orgulhoso, vingativo, ambicioso, com mais pecados à minha disposição que pensamentos para os idealizar, imaginação para lhes dar forma, ou tempo para os cometer. Somos todos perfeitos patifes, não acredites num só de nós. Segue o teu caminho para um convento. Onde está o vosso pai?

OFÉLIA
Em casa, senhor.

HAMLET
Que as portas se lhe fechem, para que não faça de parvo a não ser em sua casa. Adeus.

OFÉLIA
Ó bons céus, ajudai-o.

HAMLET
Se tu te casares, dou-te por dote esta praga: sejas tu casta como o gelo, pura como a neve,
à calúnia não escaparás. Vai para um convento, adeus. Ou se tens mesmo de casar, casa com um idiota; pois os homens sensatos sabem bem em que monstros os tornais. Para um convento, vai – e depressa. Adeus.

Sai

OFÉLIA
Ó, que nobre espírito eis aqui derrubado!
E eu das amantes a mais descoroçoada e desditosa,
Tendo bebido o mel dos seus melodiosos votos,
Agora vejo essa nobre e soberana razão
Quais doces sinos distorcidos, fora de tom e estridentes,
Essa ímpar forma e feição de brotante juventude,
Arruinada pela loucura! Ó, ai de mim!
Ver o que vejo, tendo visto o que vi!


6 (3.2)

Entra Hamlet com os Actores Todos
Ficam os três escolhidos e os outros saem

HAMLET
Dizei o texto, peço-vos, tal como eu o pronunciei, sem trapos na língua; se o mastigardes como muitos dos nossos actores fazem, será tão aliciante como deixar que o pregoeiro recite as minhas palavras. Nem serreis o ar com a mão demais, assim, mas fazei tudo com contenção; pois mesmo na torrente, tempestade, e, quase poderia dizer, no remoinho da vossa paixão, tereis de adquirir e cultivar uma temperança que possa dar-lhe subtileza. Oh, ofende-me até à alma ouvir um fulano espalhafatoso de peruca desfazer uma passagem apaixonada em frangalhos, em verdadeiros farrapos, e dar cabo dos ouvidos à plateia, que na maior parte não compreende nada que não sejam pantomimices inexplicáveis e barulho. Eu mandaria chicotear tal fulano por exagerar Termagantes. Herodizar Herodes. Oxalá possais evitá-lo.

‘soam as trombetas, as cortinas abrem-se, descobrindo dentro um palco, e uma Pantomima é então representada.

‘Entram um Rei e uma Rainha, muito afectuosos, a Rainha abraçada a ele e ele a ela, ela ajoelha e dá sinal de protestar diante dele, ele levanta-a e declina a cabeça sobre o pescoço dela, ele deita-se sobre um tufo de flores, e ela vendo-o a dormir deixa-o: logo entra outro homem, tira-lhe a coroa, beija-a, e deita veneno para dentro dos ouvidos adormecidos e deixa-o; a rainha regressa, encontra o rei morto, e reage de modo apaixonado: o envenenador com mais três ou quatro acompanhantes volta a entrar, aparentando condoer-se com ela: o cadáver é levado; o envenenador corteja a rainha com presentes, ela parece um pouco ríspida, mas por fim aceita o seu amor’
[as cortinas fecham-se

REI

Luzes, luzes! Quero mais luzes!

7 (3.3)

REI

Oh, a minha ofensa tresanda. Empesta os céus.
Ela tem sobre si a primordial e antiga maldição,
O assassínio de um irmão. Rezar não posso,
A força da minha culpa quebra o meu forte intento
E como um homem a duplos deveres obrigado
Eu estou hesitante em por qual hei-de começar.
E se esta amaldiçoada mão
Fosse uma luva espessa de sangue de irmão,
Não haverá.chuva suficiente nos suaves céus
Que a lave até ficar branca como neve?
Então olharei o alto.
Minha falta é passado. Mas, oh, que forma de oração
Me pode servir?
Tal não pode ser, já que ainda estou na posse
Dos efeitos para os quais cometi o crime,
A minha coroa, a minha própria ambição, e a minha Rainha.
Pode alguém ser perdoado e conservar a ofensa?
E frequente é ver-se como o próprio prémio do vício
Pode comprar a lei. Mas não é assim nas alturas.
Não há artimanhas.
O quê então? O que nos resta?
Ver o que pode o arrependimento. Que há que não possa?
Mas que há-de poder quando alguém não pode arrepender-se?
Tudo há-de ficar bem.

O Rei ajoelha. Entra Hamlet

HAMLET
Agora posso fazê-lo preste, agora que está em prece.
E agora o farei. E assim vai ele para o céu.
Um vilão mata o meu pai, e por isso
Eu, seu único filho, a esse mesmo vilão mando
Para os céus.
Ora, isto é trato e salário, não vingança.
E como estão as suas contas, quem o sabe salvo no céu?
Irá ser duro com ele. E estarei eu então vingado,
Ao levá-lo enquanto purga a sua alma,
Quando está pronto e sereno para a passagem?
Não.
Quando estiver a dormir de bêbedo, ou em coléra,
Ou no incestuoso prazer da sua cama,
Ou em qualquer acto
Que não tenha nele réstia de salvação —
E que a sua alma possa ser tão amaldiçoada e negra
Como o inferno, para onde vai. Minha mãe espera por mim.

Sai

REI
(Erguendo-se)
Minhas palavram voam alto, meus pensamentos não se erguem.
Palavras sem pensamentos jamais subir aos céus conseguem.

Sai

8 ( 1.5)

Um espaço aberto na base da muralha do castelo

Abre-se uma porta na muralha; o ESPECTRO caminha em frente e HAMLET depois, o punho da sua espada desembainhada à laia de cruz diante de si

HAMLET
Aonde me queres levar? Fala, não irei mais longe.

ESPECTRO
[volta-se]. Ouve-me.

HAMLET
Assim farei.

ESPECTRO
A minha hora é quase chegada,
Em que às sulfurosas e tormentosas flamas
Terei de me render.

HAMLET
Ai de ti, pobre espírito!

ESPECTRO
Não te apiedes de mim, mas presta a mais solene atenção
Àquilo que irei revelar.

HAMLET
Fala, eu estou pronto para ouvir.

ESPECTRO
Assim como para te vingares, quando tiveres ouvido.

HAMLET
Como?

ESPECTRO
Sou o espírito do teu pai,
Condenado por certo tempo a vaguear na noite,
E durante o dia confinado a penar nas chamas,
Até que os infames crimes perpetrados nos meus dias naturais
Se consumam e se purguem.
Escuta, escuta, Oh escuta!
Se tu alguma vez o teu querido pai amaste –

HAMLET
Ó Deus!

ESPECTRO
Vinga o seu cru e mais que desnaturado assassínio.

HAMLET
Assassínio!

ESPECTRO
Assassínio bem cru, como só poderia sê-lo,
Mas este mais cru, estranho e desnatural.
Agora Hamlet ouve,
Foi divulgado que, estando a dormir no meu jardim,
Uma serpente me picou, e assim todo o ouvido da Dinamarca
Foi por um forjado relato da minha morte
Relesmente enganado: mas sabe, tu nobre jovem,
Que a serpente que realmente abocanhou a vida do teu pai
Agora lhe usa a coroa.
Ó Hamlet, que queda fatal foi essa!
Mas calma, parece-me sentir o ar da manhã.
Devo ser breve. Dormindo no meu jardim,
Meu costume sempre da tarde,
Pela minha segura hora o teu tio se esgueirou
Com suco maldito do meimendro num vidro,
E no pórtico dos meus ouvidos verteu
O leproso destilado.
Em instantes me vi de escamas coberto como uma casca,
Como os lazarentos, com vis e asquerosas crostas
Por todo o meu suave corpo.
Ó, horrível! Ó, horrível! Demasiado horrível!
Se tu ouves a natureza em ti, não o suportes.
Não deixes que o real leito da Dinamarca seja
Uma alcova de luxúria e amaldiçoado incesto.
Mas seja como for que realizes este acto,
Não sujes a tua mente, nem deixes a tua alma conspirar
Seja o que for contra a tua mãe. Que sejam os céus
E os espinhos que no seu peito se alojam
A picar e a ferroá-la. Despeço-me de ti agora.
O pirilampo mostra que a manhã se aproxima
E já empalidece o seu ineficaz fogo.
Adeus, adeus, adeus. Lembra-te de mim.

Saem

9 (1.2)

Fanfarra. Entra Cláudio, REI da Dinamarca. Gertrudes a RAINHA, o Conselho, que inclui VOLTEMAND, CORNÉLIO, POLÓNIO e o seu filho LAERTES, HAMLET vestido de preto, com outros.

REI
Ainda que da morte do nosso querido irmão Hamlet
A memória esteja fresca, e ainda que nos seja ajustado
Trazer nossos corações em pesar, e que todo o nosso reino
Se contraia num único esgar de dor,
Já porém tanto a discrição lutou com a natureza
Que nós com sensata contrição pensamos nele
Tanto quanto nos relembramos de nós mesmos.
Por isso a que noutros tempos foi irmã, ora nossa Rainha,
A imperial herdeira deste guerreiro Estado,
Nós, como se com destroçada alegria,
Com um olho auspicioso e outro lacrimoso,
Com alegria no funeral e lamentos no matrimónio,
Em igual escala pesando delícia e dolor,
Tomámos por esposa. Nisto não pusemos barreiras
Aos vossos melhores juízos, que sempre livremente andaram
De par com este assunto. A todos, nosso agradecimento.
E agora, Laertes, que novas nos trazeis?
Falaste-nos de uma certa solicitação: o que é, Laertes?
Não podeis falar e razoar com o rei Danês
E perder a voz. Que haverias tu de rogar, Laertes,
Que não haja de ser oferta minha, não pedido teu?
Não é maior a natureza entre cabeça e coração,
Não é a mão mais instrumental para a boca,
Do que o trono da Dinamarca é para teu pai.
Que hás tu de obter, Laertes?

LAERTES
Meu ilustre senhor,
Vossa licença e favor para retornar a França,
De onde aliás de boa vontade viajei para a Dinamarca
Para mostrar meu dever na vossa coroação.

REI
Tendes vós de vosso pai a licença? Que diz Polónio?

POLÓNIO
Ele, meu senhor, arrancou de mim uma morosa licença
Por laboriosíssima petição, e por fim
Sobre as suas vontades pus o selo do meu árduo consentimento.
É meu desejo que lhe deis licença para ir.

REI
Toma a tua boa hora, Laertes, o tempo é teu,
E tuas boas graças expende à tua vontade.
Mas agora, meu primo Hamlet, e meu filho –

HAMLET
Mais algo do género que algo do mesmo género.

REI
Como é isso de as nuvens ainda pairarem sobre ti?

HAMLET
Não é assim, meu senhor, ando demasiado ao sol.

RAINHA
Bom Hamlet, deixa teus olhos ver o rei da Dinamarca como amigo.
Não fiques para sempre de olhos no chão
A buscar por teu nobre pai no pó.
Tu sabes quão comum é tudo o que vive ter de morrer,
Passando do natural à eternidade.

HAMLET
É, senhora, muito comum.

RAINHA
Se é assim,
Porque aparenta ser tão particular para ti?

HAMLET
Aparenta, senhora? Não, é. Não conheço ‘aparências’.
Não é somente a minha tinta capa, boa mãe,
Nem as costumeiras vestes de solene luto,
Nem os suspiros fundos de forçado alento,
Não, nem o farto ribeiro dos olhos,
Nem o desanimado aspecto do meu viso,
Somados a todas as formas, modos, aspectos da dor,
Que em verdade denoto. Essas são aparências de facto,
Pois são acções que um homem pode fingir;
Mas eu possuo aquilo com que ultrapasso o espectáculo.

REI
É doce e comprovativo da tua natureza, Hamlet,
O prestares esses deveres de luto para com teu pai.
Mas deves saber que teu pai perdeu um pai,
Esse pai perdido, o seu perdeu – e quem sobreviveu soube
Em filial obrigação e até seu termo
Cumprir obsequioso pesar. Mas o perseverar
Numa obstinação condolente é seguir um curso
De ímpia teimosia, é dor emasculada,
Mostra uma vontade bem contrária à dos céus,
Um coração desguarnecido, uma mente impaciente,
Um entendimento simples e desinstruído;
Pois ao que sabemos ter de ser, e é tão comum
Como a mais vulgar das coisas ao nosso senso –
Porque nos haveríamos de perversamente opôr
E tomar a peito? Não, é uma falta diante dos céus,
Uma falta contra os mortos, uma falta contra a natura,
Por demais absurda perante a razão, cujo tema mais comum
É a morte dos pais, e que sempre clamou
Do primeiro corpo até ao de quem tenha morrido hoje,
‘É assim que tem de ser’. Pedimos-te que deites por terra
Essa infrutífera dor, e penses em nós
Como num pai; pois que o mundo tome boa nota
Tu és quem sucede imediatamente ao nosso trono,
E com não menos nobreza de amor
Que aquele que o mais querido pai nutre pelo filho
Assim o comparto no que a ti respeita.

Fanfarra. Saem todos menos Hamlet

HAMLET
Ó, se esta carne tão, tão sólida pudesse solver,
Diluir e volver-se a si mesma em orvalho,
Ou se a Eternidade não houvesse fixado
O seu cânone avesso aos que a si se matam. Ó Deus! Deus!
Quão exauridos, gastos, fracos, e inaproveitáveis
Se me mostram todos os usos deste mundo!
É um jardim solitário
Cujas sementes engordam; quanto há de rasteiro e grosseiro na natureza
Possui-o por inteiro. Que tenha chegado a isto!
Só há dois meses morto – não, nem tanto, nem dois –
Tão excelente rei, tão amante de minha mãe
Que nem aos ventos celestes permitiria
Visitar a face dela com tal rudeza. Céus e terra,
Devo eu recordar? Ora, ela não o largava
Como se em crescente apetite provasse
Do que era farta; e porém daí a um mês –
Não me deixeis pensar nisso – fraqueza, o teu nome é
mulher –
Um simples mês, antes daqueles sapatos gastar
Com que acompanhou de meu pobre pai o corpo,
Toda lágrimas – quê, ela –
Ó Deus, uma besta a que falte o discurso da razão
Haveria de manter o luto – casada com o meu
tio,
Irmão de meu pai – mas não mais igual a meu pai
Que eu a Hércules. Passado um mês,
Antes que o sal das muito injustificadas lágrimas
Lhe houvesse inflamado em chaga os olhos,
Ela casou – Ó mais que ímpia pressa! Precipitar-se
Com tal destreza em incestuosos lençóis!
Não é, nem pode acabar em nada de bom.


10 (0.0)

(Todos)


Ser ou não ser/, eis a questão/ – Ana A./Pedro
Que seja mais nobre em consciência suportar
Os golpes/e as flechas da má fortuna/ – Ângela, Ana F.
Ou tomar armas contra um mar/de problemas/ – Bruno/Ana Isa, Mara, Ana Rita
E a eles nos opondo/dar-lhes um fim. / Morrer – dormir, / – Mafalda/Cláudia/ Nando; Vanessa/Marta; Zé
Nada mais; / e por dormir dizer que damos fim – Catarina
A dores do coração/ e aos milhares de choques/ naturais/ – Sara/
Mafalda/ Pedro; Ana Rita; Ângela
De que a carne é herdeira:/é uma consumação/ – Nando / Catarina
A desejar devotamente. / Morrer, / dormir, / – Mara/ Zé; Bruno/ Ana Isa; Ana F.
Dormir, /porventura sonhar/ – Ah! /Eis o senão:/ – Sara; Cláudia; Marta; Ana A./ Vanessa/ Nando/ Ana A.
Pois os sonhos que nesse sono da morte possam vir/ – Zé
Quando nos libertamos deste mortal/ enredo/ – Mara/ Todos
Devem fazer-nos hesitar – /eis o respeito – Sara
Que faz tão longa vida/ uma calamidade. – Bruno/ Ana Isa; Pedro
Pois quem suportaria/ a vergasta e o desdém/ deste mundo, / – Ana F./ Catarina; Mafalda; Ângela/ Cláudia
Os erros/ do tirano, / as injúrias dos arrogantes, / – Todos/ Marta/ Ana Rita
As angústias do amor depreciado, / a lentidão/ da lei, / – Ana Isa/ Vanessa/ Todos
A insolência dos que têm um posto, /e os coices – Mara
Que o mérito paciente/, leva dos que não têm nenhum, / – Catarina/ Nando
Quando o próprio poderia a quietude alcançar/ – Ângela
Com um mero punhal? / Quem suportaria o fardo, / – Todos/ Pedro
Resmungando/ e suando/ uma vida de /trabalhos, / – Zé/ Vanessa/ Ana Rita/ Ana F; Marta; Ana Rita
Se não fosse o recreio de qualquer coisa depois da morte/ – Cláudia
A terra desconhecida, / de cuja fronteira – Mafalda/ Bruno
Nenhum viajante regressa, / que confunde a razão, / – Ana A./ Bruno
E nos faz suportar antes os males que temos/ – Ana F.
Que voar ao encontro de/ outros que desconhecemos? / - Nando/ Mara; Catarina; Ângela; Marta
Assim a consciência nos torna cobardes/ a todos, / – Vanessa/ Cláudia
E assim a uma feição genuína e resoluta/ – Ana Rita
Se sobrepõe a doentia cor pálida da incerteza, / – Pedro
E empresas de grande alcance/ e importância/ – Mafalda/ Bruno
Com tais considerações do curso se desviam/ – Sara
E perdem o / nome de acções – Ana Isa/ Todos
(Suicidam-se todos) ?

Anexo: as palavras sublinhadas significa que são ditas por mais do que uma pessoa ao mesmo tempo.




FIM

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