28/11/06

Mais um... também não há-de fazer mal

Aqui vai a carta enviada pelo nosso orientador, ou professor, ou.....
bom, o essencial é que foi o André Gago que enviou, tendo em conta a sua ausência nestes dois dias de ensaio.
Parece-nos bem que faça parte deste nosso diário ou semanário de bordo, que infelizmente apenas agora começa a dar os primeiros passos, mas mais vale tarde que nunca, e não é qualquer blog que consegue ter assunto para 5 ou 6 posts de seguida... por isso aqui vai e perspectivando que ainda regressamos hoje...
despedimo-nos por agora...

PS- reparem no desalento das linhas finais quando fala do nosso falecido haalgodepodrenoreinodadinamarca.blogspot.com....



Caros amigos,

Antes de mais, saibam que me custa muito não poder estar convosco nestes dois dias. Já avançámos juntos bastante neste Hamlet, desde que começámos a trabalhar e a conhecermo-nos há cerca de 6 semanas!... Agora, que estamos na recta final e sentimos que o nosso projecto tem de ganhar uma forma definida, este afastamento pesa bastante, pois sentimos que poderíamos avançar mais e melhor se estivéssemos todos juntos. Pois bem, através desta carta, vou tentar estar convosco para que estes dois dias de trabalho sem mim vos possam parecer menos desacompanhados.

Creio que na última semana chegámos decisivamente ao formato do que virá a ser o nosso Há Algo de Podre no Reino da Dinamarca.

Estou entusiasmado com a vossa crescente organização, e o vosso empenho individual nestes dois dias é crucial. Tenho pena que o João Lopes tenha tido os problemas pessoais que teve, e daqui lhe mando um abraço e os votos de que o seu filho se encontre bem.

Como ele não pôde ensaiar as suas intervenções numa altura chave de evolução do trabalho, e se ele estiver disponível e concordar, acho que seria uma boa ideia se ficasse com a incumbência de operar a luz do espectáculo, em vez de estarmos a dividir essa tarefa por todos, o que pode ao fim e ao cabo vir a dar uma grande barraca. Topas, João?

O Fernando vai ter com esta carta a surpresa de uma proposta com a qual certamente não está a contar, mas no último ensaio verifiquei que a nossa história de investigação policial estava um pouco coxa. Falta perceber, ou definir, quem realiza essa investigação, isto é, que são os investigadores, e portanto quem fará os entremezes de ligação em que partes da trama são narradas. Ora dei-me conta de que, com os cortes, o Fernando só entraria na 1ª cena. Como é ele que abre as hostilidades, no papel de Fortimbrás, parece-me boa ideia ele passar a ser o nosso inspector Fortimbrás desde o princípio até ao fim. Vou escrever ainda os textos de ligação, e ele pode lê-los, como se estivesse a ler um relatório de polícia, não precisa de os decorar – a não ser que prefira sabê-los de cor!

Assim, entre cada cena, e às vezes no meio, ele irá ler, em pé e fora de cena (excepto quando vai agarrar a taça e a espada na cena 1) os textos respectivos, talvez com a ajuda de uma lanterna?

Vou escrever as narrações, mas quando? São 11 da noite e tenho mais duas cartas para escrever, antes de ir para Coimbra... lá não vou ter tempo... será que alguém me ajuda e substitui (Catarina?) , sugerindo esses textos de ligação? Poderiam enviar-mos por e-mail na terça, e eu dava-lhes uma vista de olhos na 4ª...

Em relação à ideia de montar um pequeno gabinete de polícia com um computador para ler esses textos, acho que é preferível deixar cair, e ele ter realmante simples relatórios ou dossiers ou um pequeno bloco no qual possa ler os textos.

A propósito, sugeria que a Sara, na cena em que ameaça o Rei, em vez de uma espada levasse uma pistola...

A ligação entre cenas é muito importante. Os actores de cada cena deveriam sair e os da cena seguinte entrar ao mesmo tempo e adoptar uma posição em paralítico, durante a qual o inspector Fortimbrás lerá os textos. Mal ele acabe de ler, começam a acção. Vale também para a Ofélia da Ana Ferreira: sobe ao palco, espera pela narração e depois arranca, até o Pedro entrar.

As luzes poderiam acompanhar este momentos de transição, só subindo quando a cena começa de facto, mantendo durante as mutações de cena uma intensidade mais fraca, em que, por exemplo, o Fernando se destacasse.

É durante as entradas e saídas dos actores que devíamos ter música: violino ou clarim, ou percussão. Apontamentos breves, sons estridentes, acordes agressivos do violino ou toque de clarim: será que a Ângela pode preparar alguma coisa nestes dois dias nos ensaios para eu ouvir no dia 4?

A todos: trabalhem o tom, falem alto, mesmo quando sussurram; aqueçam a voz, e façam as consoantes do abecedário para ganhar nitidez na elocução; articulem bem, e dividam os vossos textos de forma a terem pausas, para não correrem como quem vai atrás do comboio...

Agora vamos ver cena a cena:

CENA 1
Na cena 1 atenção ao 2º toque, que tem de ser antes da raínha beber; só no terceiro é que a Raínha eleva a taça e Hamlet fica a olhar para ela; Laertes, não te esqueças de comprometer toda a gente olhando bem para trás, dos dois lados, e dizendo clara e lentamente o texto; Fortimbrás, mostra bem a taça ao público antes de a dares ao Rei; Rei, pede a taça olhando para a frente, os teus desejos são ordens; Horácio, faz pausas e paragens entre cada apresentação, e anda com passadas bem afirmativas, como se tivesses botas de apresentador do circo; depois de dizeres que vais beber da taça; não esperes que ele te vá interromper, leva-a lentamente à boca como num ritual sagrado, podes levar muito tempo, o Hamlet acabará por te interromper; o inspector terá de dizer o 1º texto a criar de narração quando pega na prova ‘taça’ e vai buscar a prova ‘espada’;

CENA 2
Meninas, andem só o necessário, quanto mais paradas ficarem mais forte será a vossa presença, nada de passos e movimentos a cada vírgula, os movimentos são interiores, e passam melhor para forma se estivermos quietos; a carta a Horácio deve ser lida pelo inspector Fortimbrás; não se esqueçam que não saiem, pois a Ofélia vai entrar já de seguida

CENA 3
Ofélia vai ter flores ou são imaginárias? Força Marta, simples e com garra, como começaste a fazer da última vez. Tenta acusar um bocadinho o teu irmão e o Rei pelo que estás a passar.; Rainha, experimenta contar a tua história para o público, circundando toda a cena;

CENA 4
Mantenham o que está; talvez ajude o Laertes em vez de olhar para cima quando sai de ao pé da Ofélia olhar em vez para o chão e sorrateiramente para ela de vez em quando, quando muito de mãos atrás das costas, mas tudo simples, sem exagerar ao querer mostrar indiferença perante a provocação da irmã;

CENA 5
Hamlet não pode ser pomposo nesta cena, Mara, só cruel mesmo, atenção aos ares importantes que às vezes dás através da voz, sê antes má mas simples, crua e directa, experimenta desprezar Ofélia como se fossem as duas a representar papéis femininos e ela fosse a amante do teu marido a quem dás uma lição de humilhação para correr com ela de vez; Isa, assusta-te e humilha-te, quanto mais tensa estiveres, melhor; experimenta usar uma respiração ofegante e curta, muito rápida, durante a cena, e gestos também curtos e hesitantes, como se estivesses muito assustada;

CENA 6
Foi ao ar (na versão antiga, provavelmente já reformularam isso)

CENA 7
É mudar tudo para a outra ponta do palco; a cena é engraçada e não digo mais nada, quando aí estiver vemos como está e ajusta-se o que fôr preciso; o Bruno não sai da cena, fica para a seguinte; todos gritam: “o Rei levanta-se!”


CENA 8
Mantém o qe já descobriste, Bruno, porque a tua solenidade é boa, mas agora procura tornar tudo um pouco mais rápido

CENA 9
O que fizeram no primeiro ensaio era bom, e o Espectro tem mesmo de ajoelhar diante Hamlet algum tempo, vejam juntos quando foi da outra vez para isso ficar certinho e fica assim mesmo; a voz transformada do Espectro foi boa naquele exacto momento no último ensaio

CENA 10
Ensaiem vocês, para já não tenho indicações a dar, a não ser ao Alex, para dividir bem e articular bem o solilóquio.

CENA 11
Cortada

CENA 12
Têm de dividir o texto entre todos, ou arriscar que todos o irão saber de cor para o dizer na altura por ordem. O “Ah!” fica, todavia, para o Fernando!...



Um abraço!


André Gago

P.S.
Tentei entrar no blogue, mas não consegui; está a funcionar, ou ainda não? Lembrem-se que faz parte do trabalho, e é uma ideia pioneira para futuros trabalhos na Universidade...

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